domingo, 25 de janeiro de 2009

"O processo de criação e os poderes que nos dão" - página 03 - primeira versão esboçada ( ou "quando os mamilos têm que ficar de fora")

Essa é a primeira versão da página 03 da nossa história. Aqui, o grande desafio era representar, de uma maneira simples e sutil, o sexo entre as personagens principais da história.
O problema é que, como essa página toda é um grande flashback, o cara está na verdade se recordando dos bons momentos que passou ao lado dela. Por isso, optamos por nada muito esburacado e arreganhado - afinal, antes de tudo, ele a respeita muito.
Claro que a tentação de desenhar uma mulher maravilhosa em poses sensuais e mandando ver é uma delícia, tanto para o desenhista quanto para os leitores. Mas tudo tem que fazer parte de um contexto. Cada coisa em seu lugar. Por isso, nossa principal decisão foi: os mamilos têm que ficar de fora.
Não sou careta nem censor. Mas, como nessa página, ele fica divagando sobre como ela faz falta na vida dele, o texto e os recordatórios têm que andar ao lado dos desenhos. E eu tenho uma teoria de que a gente pode revelar o quarto segredo de Fátima - se ele aparecer ao lado de um par de seios, ninguém vai saber qual é o segredo. Por isso, penso que toda vez que alguma mídia - seja ela cinema, teatro, TV ou quadrinhos - precisa representar graficamente algo com um impacto visual muito forte - seja sexo, seja violência extrema - ele tem que aparecer isoladamente, sem nenhum texto. Ou, se o texto for extremamente necessário, que faça parte da ação. Qualquer texto que seja colocado fora desses contextos soa cafona e intrometido (ops!).

Quando falo tudo isso, não é gratuitamente. Uso como referência alguns dos principais artistas de HQ's do mercado - que retratam sexo sem nenhum pudor, mas com uma fluência e ritmos que, em nenhum momento, prejudicam o clima da história.

Milo Manara em "A Metamorfose de Lucius"

A maioria dos artistas europeus, como Enki Bilal e Milo Manara, retratam o sexo exatamente da maneira como falei: Ou representando-o isoladamente, ou fazendo os personagem falarem sobre o que estão fazendo e sentindo (como representado no quadrinho acima).

Serpieri em "Druuna"

Em contrapartida, o que Paolo Serpieri faz nesse quadrinho de "Druuna" é o contrário de tudo o que falei: Os personagens falam, mas nem dá pra prestar atenção, porque a gente só fica olhando pra Druuna. Mas... foda-se as minhas teorias! Serpieri sabe muito bem que, no caso de "Druuna", o que a gente quer mesmo é vê-la e vê-la em todos os ângulos possíveis e imaginaveis:)

Arte de Enrico Marini em "Predadores"

Em "Predadores", o desenhista Enrico Marini utiliza a mesma abordagem de Milo Manara - o sexo deve ser tratado como um componente isolado (e bonito, e vistoso) da historia.

Arte de Frédric Boilet em "O Espinafre de Yukiko"

Por fim, as histórias de Frédric Boilet (como "O Espinafre de Yukiko" e "Garotas de Tóquio") reforçam todas as características que citei acima, com o diferencial que, por utilizar técnicas de fotografia e rotoscopia, suas HQ's tem uma pegada mais voyeur - e o uso esparso de diálogos (como na vida real) deixa tudo muito mais realista.

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